quarta-feira, 30 de julho de 2008

“O alcance da promessa, só o que me interessa!”

Para passar o tempo que me prende no tédio dele (ou eu que me deixo ser presa), fui vagar pelos blogs de conhecidos e amigos, e me deparei com a seguinte combinação de palavras e sentimentos: “Ninguém pensa que após se encontrar vai conseguir se esconder. Aqueles que nunca questionaram o sistema tentam ser felizes em ficções, vícios, imaginação. Porque vive-se uma era sem sonhos diferente daquela em que fazê-lo não custava nada. Hoje, custa o preço do choque térmico. Do balde de água fria ao despertar.” Theo Valadares - http://theovaladares.zip.net/
Comentei no blog dele que após a verdade dita, nada tenho a dizer. Mas talvez eu tenha, pois resolvi escrever em meu blog depois de ler o texto todo dele. E fica aqui a dica pra quem quer ler coisas de conteúdo, vão ao blog dele. E, na verdade, o citei aqui sem ter pedido autorização então, de anti-mão, espero um processo. Mas isso serviu que eu tivesse coragem pra botar pra fora tudo o que venho sentindo. Não que eu tenha a esperança de que alguém vá ler e comentar, pouca gente lê isso aqui mesmo. Mas como é um espaço meu, faço dele o que eu bem entender. E aqui é quase a única coisa que faço mesmo o que bem entendo.
Durante vinte e quatro anos eu lutei pela mesma coisa, eu lutei por mim mesma, sem grandes sucessos. E chega uma hora que cansa. Sabe quando lhe bate um cansaço tal que não se encontra energia nem pra olhar pra uma caneta? Pra olhar para uma parede branca que seja, ou pra mudar uma música que roda sem parar no media player, como agora. Também, qual a diferença de mudar a música se a vida continua a mesma? Triste mesmo é olhar pro lado e constatar que não se pode confiar em ninguém. E que aqueles a quem você supõem poder confiar, não tem o seu sangue correndo pelas veias. Talvez ligação de sangue seja mesmo mera ilusão de uma sociedade condicionada em aparências. E aparências é bem a palavra pra definir o que me rodeia. E talvez eu esteja enganada. Se for, ótimo. Enganos servem sempre de amadurecimento. Então, como seria olhar pro lado, olhar pro outro e não ter forças pra nada? E só prosseguir respirando por esperar ganhar a luta de sempre: Eu para mim mesma? É bem possível que eu saiba.
Considero até que venho dando grandes e largos passos. É bem verdade que venho questionando coisas inquestionáveis e que amanhã me arrependerei disso. Mas também faz parte do processo. E por mais que eu amadureça, dificilmente esquecerei tudo o que passei até o dia em que eu me ganhe totalmente e, comigo, todos os meus sonhos. E nunca esquecerei os motivos, pessoas, coisas ou situações, que atrasaram minha chegada. Ótimo também, lembrar das origens sempre lhe coloca em posição de maior clareza das coisas. Mas o Theo tem razão, após se encontrar é difícil mesmo se esconder. E não por escolha minha que ainda me quero inteira pra mim. É por puro instinto mesmo. Por pura fome pela promessa. E quando eu conseguir me transferir da minha “era sem sonhos” para uma era repleta deles, como já bem disse Lenine: “quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado, só de quem me interessa”.

Nota do dia:

Começar De Novo
Ivan Lins
Composição: Ivan Lins / Vitor Martins


Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo...

domingo, 20 de julho de 2008

Democracia ontem?



"Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague"

Chico Buarque - Deus Lhe Pague



Democracia hoje?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Em primeiro lugar

Aviso: É a ultima vez que tento manter um blog. Se desta vez não der certo, desisto . Entretanto, como a incoerencia quase que me descreve, pode ser que amanhã eu mude de idéia. De todo modo, acho bom uma introdução, afinal qualquer criação que se preze tem uma introdução. Fato é que este é meu tercerio blog em vida, e espero, o ultimo. E em todos eles sempre dei ênfase, mesmo que em reflexões ou citações, à má xima “metade de mim é amor e, a outra metade, também” de Oswaldo Montenegro. Então acho justo, pelo menos uma vez na vida, que eu mostre a origem desta citação e, consequentemente, salientar o porquê da minha atração por ela.
É bem verdade que Oswaldo Montenegro é mestre em compor musiquetas estranhas e, por vezes, barangas, apesar de engraçadas. Mas também é verdade que é mestre no quesito musical e entende de seu oficio como ninguém. Mas digo que, a academia brasileira de letras, ao invéz de ocupar-se em dar méritos a seres mediocres como Paulo Coelho, deveria atentar para poesias tão belas quanto “Metade” de Oswaldo Montenegro que, sendo música, não deixa de ser poesia:

Metade

Oswaldo Montenegro

E que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.


Essa música, assim como tantas outras, fala de mim com muita propriedade. E, pra ser exata, nada do que não seja música é capaz de me descrever. Porque a música é livre, e tem o poder de trazer à luz o que não se pode ver aos olhos nus por meio de palavras tortas e trocadilhos bem feitos. Mesmo que sem letra, música é sempre libertária, tanto no âmbito do íntimo e privado, quanto no âmbito público. Música, sendo arte, é também política. E aqueles que dizem o contrário, nada sabem de arte ou de política (abro uma brecha pra explicar aqui que não tenho a menor intenção de ser imparcial já que concebo que nada no mundo é imparcial).
Considerando que música é uma arma terapêutica, poética, política, sociológica, econômica e, por tudo isso, com capacidade libertária, que coloquei como título deste blog o título de uma música. Uma música tropicalista, movimento do qual me identifico com totalidade de minha alma e de meu entendimento. E neste mesmo sentido, coloco na minha descrição uma música que diz da forma mais simples e sofisticada a imagem que meu espelho mostra de mim, ou aquela que eu simplesmente sou capaz de sentir. E é neste espírito libertário que darei encaminhamentos nos textos e artigos deste espaço.
Não tenho aqui a intenção de ser agradável aos olhos de ninguém a não ser aos meus. Não tenho aqui pretensão de ser aplaudida em tudo o que for publicado e nem iludirei, a quem se propor leitor, que todas as minhas concepções expostas aqui serão sofisticadas, modernas e revolucionárias. Aviso que sou guardiã tanto de idéias revolucionárias como de idéias conservadoras. Aviso que trago comigo uma formação acadêmica à luz da História e marxista. Aviso também que guardo comigo, além disso, concepções cristãs e religiosas. Saliento aqui, porém, que história e marxismo se relacionam mas não são a mesma coisa. Bem como religiosidade e cristianismo podem ser coisas distintas. E, não obstante, ainda prevendo prováveis questionamentos desprovidos de estudos prévios, encurtarei o caminho da pesquisa e digo que marxismo e cristianismo não se anulam. E mesmo que eu possa parecer incoerente e arrogante (o que não nego), usarei da minha liberdade de sê-lo.
Dito isto, presumo ter ficado claro que não sou de todo subversiva e nem de todo conservadora. Remeto-me, entretanto, à música novamente, que é uma das minhas mais lindas e preferidas verdades, para dizer que ao ter a responsabilidade de apresentar minhas ideologias e concepções, pratico um ato libertário. E ao propor falar daquilo que realmente acredito, falo a verdade. ‘E a verdade é a mais revolucionária das armas’.

...enquanto as pessoas da sala de jantar, são preocupadas em nascer, e morrer...