sábado, 7 de fevereiro de 2009

Para estreiar 2009 em grande estilo: xingando a humanidade e me divertindo de montão!



Para estreiar este blog em 2009 resolvi falar sobre um tema que sempre me incomoda mas que, nos últimos tempos, tenho me policiado em dizer para não correr o risco latente de gastar latim à toa. Não tô aqui para jogar pérolas aos porcos. Não estou aqui para aturar, como bem diz um amigo meu. Entretanto, ao procurar, despretenciosamente, informações sobre o filme "Che, El Argentino", que está para estreiar neste mês, caí em blogs que se dedicam a falar mal da vida alheia, de preferência a vida dos famosos. Enfim, costume de quem não tem vida. Claro, em um desses blogs em específico, que não vou citar o nome pois não darei ibope pra quem não acrescenta em nada na sociedade, o autor falava mal do filme do Che o chamando de assassino entre outros gentis predicados do mesmo nível.

Não pensem, caros leitores inexistentes, que estou gastando meu tempo para filosofar sobre a opnião de um ser que, obviamente, mal consegue ler legenda de filme pornô para analfabetos funcionais. Na verdade, a ocasião faz o ladrão, e por conta de ler tais abobrinhas, eu percebi que isso não é uma desvantagem apenas do autor do blog, ou das pessoas fúteis em geral. Isso é câncer da humanidade, e sobretudo das pessoas que se dizem cultas, tolerantes, sábias e bondosas. Aliás, convenhamos, o cidadão de bem é um exemplar das piores espécies. O que quero dizer é que as pessoas se acham muito à cima da carne seca e, sempre quando podem, disparam a sentar em seus belos rabinhos à falar dos rabinhos alheios do coleguinha do lado. Já que ninguém mesmo leva à sério a pedagógica música do nosso cancioneiro popular "cada um no seu quadrado", eu sou obrigada a me deparar com diarrérias verbais cada vez mais intragáveis. E aí, quando resolvo reclamar da mediocridade geral da nação, se não sou a rebelde, sou a nervosinha sem motivo. É como comentei recentemente com meu cunhado: repudiam Heloisa Helena com o argumento de que a pobre coitada é descontrolada emocionalmente. Mas é claro que ela é. Qualquer ser humano com um pingo de sensatês, se vivesse cercado de figuras bestiais do senado como ela vive, também ficaria. Mas aí o cidadão de bem, sempre se achando o mais equilibrado de todos, me faz o favor de seguir os conselhos escatológicos de Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor, Veja, Época, Globo, e editores da Abril em geral, e votam no DEM, PSDB e outros da mesma estirpe.

Mas isso não é o problema, se você tem o direito (ou melhor, a obrigação) do voto, você que vote na pataquada que melhor lhe apetecer. O problema é quando o cidadão de bem me comete tal palhaçada sobre o argumento clichê de que a esquerda é um composta de bando de vândalos, assassinos, desumanos, entre outras características amávais do gênero. Que a União Soviética não era uma sociedade igualitária e que Cuba é aquela pobreza só por causa do Fidel. Isso quando não falam que os Sem-Terra são bandidos violentos tomando como verdade absoluta todas as asneiras que a Globo profere. Antes eu até discutia, mas descobri que não há motivo para discutir com quem me usa desses argumentos que claramente acusam o total desconhecimento da pessoa sobre a esquerda e, quiçá, sobre as obras filosóficas das quais a esquerda se basea. Tão burros argumentos estes que podem ser derrotados apenas com o fato inegável que, pra começar, comunismo e socialismo nunca existiu. Já foi a época que eu tentava dar luz ao desastre natural que são as mentes de algumas pessoas, até que eu descobri que algumas pessoas não têm mentes medíocres por falta de oportunidade. Têm mentes mediocres porque gostam mesmo de ser hipócritas e morrem de medo de ouvir uma verdadizinha que seja. Não acho, de modo algum, que exista uma verdade absoluta. Mas o que é absoluto é que as pessoas são muito mais cômodas da sua hipocrisia de estimação do que da verdade dos fatos. Tanto é, que a essa altura, se alguém leu esse post até aqui, ou já deve estar ofendido com tudo que eu disse, ou está me chamando de alienada, louca e fantasiosa.

Não os culpo, é instinto de sobrevivência delegar ao outro uma característica que lhe confere.

Mas me conforta saber que outros poucos que chegaram até aqui, apesar do texto enorme, lerão até o final pois estão adorando alguém que se ponha a questionar sobre esta derrota social em que vivemos.

Eu vou assistir o filme sobre o Che, o primeiro e o segundo, com gosto, muito embora eu já saiba a história de cor e saltiado. Mas assisto pois prefiro pagar para prestigiar um filme desses, do quê pagar para prestigiar desperdícios cinematográficos como "high school musical". Gasta-se uma grana astronômica investindo em atropelos cognitívos como estes, e depois ninguém sabe porque estamos em crise...enfim...

Como já sei que as pessoas confundem com frequência o meu ouvido com latrina, escutarei comentários como "Cuba é uma ditadura", "Che é um assassino frio", "Comunistas comem criançinhas", etc., etc.. Eu poderia aqui argumentar que, em primeiro lugar, nem gosto de criancinhas, mesmo que acompanhadas de batatas fritas e molho shoyo. Em segundo lugar, o conceito de ditadura em Cuba se refere à Ditadura do Proletariado e pra descobrir o que é isso, vá ler um livro antes de sair por aí relinchando nos ouvidos alheios. Em ultimo e principal lugar, e se Che fosse mesmo um assassino. E daí? Chocou com a minha pergunta? Não precisa voltar pra ler, é isso mesmo que eu disse. E DAÍ?

Já pararam pra pensar em quantas pessoas cada um de nós matamos com as nossas grosserias e falta de sensibilidade diárias? Já pensou que a criança de rua, com frio e fome, está lá porque você desvia da calçada quando ela vem te pedir ajuda pra comer? E já pensou que se você nega a ajuda ela não come e morre de fome? E aí quem matou foi o governo, não foi a sua falta de solidariedade. Já pensou que toda vez que você passa por um mendingo e desvia o olhar pra não lembrar da culpa que lhe cabe por aquele homem estar naquela situação você o mata a conta gotas. E aí, você não é só um assassino, é um torturador também. E no fundo, no fundo, você sabe disso, e por isso mesmo você desvia o olhar. E quando você trata mal o malabarista do sinal que lá está afim de prover o seu sustento? E quando você doa dinheiro pro criança esperança, amigo da escola, e escatologias ongueiras do tipo, mas não tem coragem de tratar bem um aleijado maltrapilho que te pede um dinheiro na calçada e ainda justifica dizendo que isso é um golpe antigo numa tentativa falida de massagear a sua própria consciência. E quando as nações ricas, por motivos econômicos, políticos e religiosos, (mais econômicos e políticos do que religiosos) saem em excursão mais animadas do que as caravanas do Silvio Santos, para enfiar no outro que a cultura ocidental é a melhor e a mais aceitável, e todo mundo bate palma pra isso, esquecendo que estão matando a identidade cultural de cada povo do mundo, assim como fizeram com a África e a America Latina inteira e por isso somos essa pocilga de nação que somos. E quando o seu governante tira uma guerra do suvaco pra aquecer a economia e mata em nome de Deus e você não faz absolutamente nada pra mudar. E ainda argumenta que ele é uma autoridade e que por mais que você não concorde precisa respeitar. Saibam que ser neutro é concordar com o que aí está.

E engraçado me parece que, matar em nome de Deus é sempre tão mais aceitável, do que reconhecer para si próprio a responsabilidade do ato revolucionário ou de guerra que lhe cabe. Mais fácil, e mais bonito, é jogar para Deus as barbaridades que comete. É mais aceitável para o cidadão de bem matar em nome de Deus, do que matar porque está no meio de uma revolução defendendo o pão igualitário do seu povo e a própria vida. Ou alguém aqui é autruista o suficiente pra enfrentar um canhão americano apenas com boa vontade, oração e, no máximo, uma faca de cozinha? Mas claro, é mais fácil passar pela cabeça pequena das pessoas que a esquerda, num contexto revolucionário, mata por sede de sangue; do que pensar na lógica óbvia de que uma revolução só se dá após a investida da nação poderosa economicamente contra aqueles que, pela educação e consciêntização tentam questionar o que aí está. E que então, em última instância, a esquerda mata pra salvar a própria pele. Ou auto-defesa agora é condenável? Mas claro, os mais recionários de plantão nunca acharão que é auto-defesa.

É sempre mais cômodo achar que o sistema capitalista e seus horrores é o melhor, e que os seus horres são apenas partes inerentes da natureza competitiva do ser humano e da vida de lutas que temos. Como se alguém aqui fosse Deus pra sair definindo qual é a natureza humana e qual é a lógica absoluta da vida. Como se a vida se baseasse, exclusivamente, na vitória individual em detrimento do outro e do todo. Que sem o capitalismo nunca haveria as delícias enlatadas do McDonalds e as maravilhas da tecnologia que só faz emburrecer e virtualizar cada vez mais as pessoas e as relações. Como se a evolução da produção de conhecimento dependesse, única e exclusivamente, do sistema de exploração do homem pelo homem. E que sempre foi assim, e sempre vai ser. Como se não existisse na história nenhum registro de outros sistemas economicos, sociais e culturais. Como se questionar "para quê" e "para quem" todas essas coisas se põem em nossas vidas, fosse um pecado mortal.

Aí eu entendo porque os que vão contra tudo o que aí está, são taxados de marginais, assassinos, rebeldes, e todos os termos pejorativos possíveis. Porque é melhor ficar no cômodo sossego do seu lar, assistindo às borrachas que a Globo lhe dá para derreter seu cérebro, do que ser confrotado sobre a sua vida limitada de bunda mal lavada e a pequenês do seu patético e titubeante círculo de pensamento e subjetividade que lhe foi dado de presente graças à esse sistema desesperador em que vivemos. E então qualquer um que pensar em questionar será tolido pelo medo de ser taxado de alienado, fanático, assassino com sede de sangue e rebelde sem causa, entre outras amáveis denominações parecidas. Afinal, é o medo o pai da moralidade.

Ano novo, vida nova, Layout novo. Só mantenho a imagem no topo em homenagem a quem admiro até o talo. E também, claro, para tirar a paz dos limitados de plantão que sempre terão uma critíca mal fundamentada para fazer.

"O conhecimento nos faz responsáveis. Che Guevara

"Sinto-me tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, como o que mais o seja e, no momento que for necessário, estarei disposto a entregar minha vida pela libertação de qualquer um dos países deste continente, sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém” Che Guevara