sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Independência para quem?



Tudo bem, a comemoração da independência serve como rito de memória e tradição e essas coisas fazem parte de toda e qualquer sociedade. Mas vamos pensar o seguinte:

A independência foi proclamada, pra início de conversa, num burrico, não em um cavalo. Dom Pedro I estava voltando da casa da Marquesa de Santos, a títilia, sua amante. Tinha comido muito fios de ovos na casa da nobre senhora, e parou no Rio do Ipiranga porque estava de diarreia, não para proclamar a independência. Foi pego de supetão por gente de sua confiança que o avisou que o bicho pegava para o lado do Brasil, e foi então que um representante da coroa portuguesa subiu suas calças, montou no burrico, tirou a fitinha do seu bolso, levantou sua espada e proclamou independência ou morte. Proclamou para que o Brasil, antes colônia, sendo independente, continuasse colônia.

Desde então, este país teve golpes atrás de golpes toda a vez que sua população tomava consciência política e decidia que seríamos independente de fato. Estes golpes todos foram muito eficazes em banir qualquer senso crítico mais profundo no seio do senso comum e, dessa forma, nos tornar eternamente dependentes dos interesses alheios.

Acho muito bom sermos independentes oficialmente e acho muito bom estarmos evoluindo em vários sentidos. Mas seria muito bom se chegasse um 7 de setembro em que pudéssemos comemorar que o Brasil é independente porque:

A mídia é independente e não serve mais aos interesses do Estado Norte-Americano e das empresas privadas, porque rádio e TV são concessões públicas. Porque as pessoas são independentes em pensamentos e palavras. Que somos independentes porque os índios, negros, homossexuais, brancos, heterossexuais, deficientes físicos, esquerda, direita, centro, crianças, adolescentes e idosos gozem de direitos iguais e consigam viver dentro dos parâmetros do respeito, da democracia e dos princípios republicanos de fato. Porque os trabalhadores são independentes financeiramente e politicamente. Porque os partidos que dizem apoiar os trabalhadores se mostrem independentes dos interesses privados. Porque, sobretudo, o presidente do país ou a presidenta do país seja, de fato, independente, e não precise mais copiar os moldes europeus ou norte-americanos. Que não precise mais agir conforme os interesses das empresas privadas deste país e, sim, conforme os interesses do povo brasileiro.

Quando essas coisas acontecerem, no momento que esse dia chegar, aí sim, poderemos gritar de forma segura que somos independentes de fato, sem nenhum porém para atrapalhar a comemoração desta data.

Feliz 7 setembro, apesar dos pesares.

Joyce Garófalo, 07 de setembro de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Uma sombra de adensa sob a América Latina.

Esta semana ocorreu um Impeachment em 24horas contra o presidente Lugo. Foi uma articulação bastante breve sem tempo hábil para a articulação da defesa de Lugo. Pelo que estou acompanhando, está bastante claro que é um golpe disfarçado de deposição democrática. As grandes mídias estão, claramente, contra Lugo. Mas é importante ressaltar que alguns comentaristas estão se colocando contra o golpe, até mesmo os comentaristas da editora Abril (o que considero sinal CLARO do tamanho absurdo que foi).

Já é o segundo golpe em curto espaço de tempo na América-Latina. E nos anos 2000 é o quarto: Tivemos um golpe contra Hugo Chávez (Venezuela) em 2002, um golpe contra Manuel Zelaya (Honduras) em 2009, uma tentativa de golpe contra Rafael Correa (Equador) em 2010 e agora, em 2012, um golpe contra Fernando Lugo (Paraguai). Em 2011, antes das eleições de Dilma, documentos que versavam sobre um plano de golpe no Brasil caso a presidenta eleita não agradasse a elite internacional vazaram na internet mas foram lidos por poucos, porque também foi muito pouco divulgado (lógico).

Para mim está muito claro que a América Latina, novamente, está sofrendo uma sucessões de golpes antidemocráticos. A favor ou não dos presidentes depostos ou vitimados pelos golpes, é muito claro que está havendo um óbvio desrespeito à democracia e soberania dos países latino-americanos. Penso ser uma questão importante a ser considerada.

Se tem uma coisa que eu não gostaria era viver uma releitura de quinta categoria de um pós-64. Não quero, nem de longe, um "vale-a-pena-ver-de-novo" de um plano Condor da pós-modernidade.

Podem me achar de louca ou conspiratória, mas a História existe para entender o passado e impedir que os mesmos erros ocorram no presente. A História existe, única, exclusivamente e EXATAMENTE para construir um futuro melhor. Não acho prudente ignorá-la. Não acho prudente não observar. Não acho prudente pensar que não tem nada a ver com você. Não acho prudente não resistir porque depois, quando não houver mais como voltar atrás, quem irá sofrer seremos nós. Sobretudo aquele que pensou que não tinha absolutamente nada a ver com isso.

Resisto ao golpe contra Lugo não porque morro de amores por Lugo, mas porque tenho convicção que a nossa soberania (a minha, a sua, a da minha família, a da sua família) passa por uma ação conjunta e de noção de irmandade entre os povos. Não sou umbiguista e para que eu tenha felicidade eu preciso que a América Latina seja minimamente respeitada. Do contrário, individualmente, nunca serei respeitada porque sou latino-americana e tenho muito orgulho disso.

Ao golpe contra o Paraguai eu digo NÃO!




Joyce Garófalo - 24 de Junho de 2012