terça-feira, 19 de março de 2013
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Independência para quem?
A independência foi proclamada, pra início de conversa, num burrico, não em um cavalo. Dom Pedro I estava voltando da casa da Marquesa de Santos, a títilia, sua amante. Tinha comido muito fios de ovos na casa da nobre senhora, e parou no Rio do Ipiranga porque estava de diarreia, não para proclamar a independência. Foi pego de supetão por gente de sua confiança que o avisou que o bicho pegava para o lado do Brasil, e foi então que um representante da coroa portuguesa subiu suas calças, montou no burrico, tirou a fitinha do seu bolso, levantou sua espada e proclamou independência ou morte. Proclamou para que o Brasil, antes colônia, sendo independente, continuasse colônia.
Desde então, este país teve golpes atrás de golpes toda a vez que sua população tomava consciência política e decidia que seríamos independente de fato. Estes golpes todos foram muito eficazes em banir qualquer senso crítico mais profundo no seio do senso comum e, dessa forma, nos tornar eternamente dependentes dos interesses alheios.
Acho muito bom sermos independentes oficialmente e acho muito bom estarmos evoluindo em vários sentidos. Mas seria muito bom se chegasse um 7 de setembro em que pudéssemos comemorar que o Brasil é independente porque:
A mídia é independente e não serve mais aos interesses do Estado Norte-Americano e das empresas privadas, porque rádio e TV são concessões públicas. Porque as pessoas são independentes em pensamentos e palavras. Que somos independentes porque os índios, negros, homossexuais, brancos, heterossexuais, deficientes físicos, esquerda, direita, centro, crianças, adolescentes e idosos gozem de direitos iguais e consigam viver dentro dos parâmetros do respeito, da democracia e dos princípios republicanos de fato. Porque os trabalhadores são independentes financeiramente e politicamente. Porque os partidos que dizem apoiar os trabalhadores se mostrem independentes dos interesses privados. Porque, sobretudo, o presidente do país ou a presidenta do país seja, de fato, independente, e não precise mais copiar os moldes europeus ou norte-americanos. Que não precise mais agir conforme os interesses das empresas privadas deste país e, sim, conforme os interesses do povo brasileiro.
Quando essas coisas acontecerem, no momento que esse dia chegar, aí sim, poderemos gritar de forma segura que somos independentes de fato, sem nenhum porém para atrapalhar a comemoração desta data.
Feliz 7 setembro, apesar dos pesares.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
sábado, 23 de junho de 2012
Uma sombra de adensa sob a América Latina.
Já é o segundo golpe em curto espaço de tempo na América-Latina. E nos anos 2000 é o quarto: Tivemos um golpe contra Hugo Chávez (Venezuela) em 2002, um golpe contra Manuel Zelaya (Honduras) em 2009, uma tentativa de golpe contra Rafael Correa (Equador) em 2010 e agora, em 2012, um golpe contra Fernando Lugo (Paraguai). Em 2011, antes das eleições de Dilma, documentos que versavam sobre um plano de golpe no Brasil caso a presidenta eleita não agradasse a elite internacional vazaram na internet mas foram lidos por poucos, porque também foi muito pouco divulgado (lógico).
Para mim está muito claro que a América Latina, novamente, está sofrendo uma sucessões de golpes antidemocráticos. A favor ou não dos presidentes depostos ou vitimados pelos golpes, é muito claro que está havendo um óbvio desrespeito à democracia e soberania dos países latino-americanos. Penso ser uma questão importante a ser considerada.
Se tem uma coisa que eu não gostaria era viver uma releitura de quinta categoria de um pós-64. Não quero, nem de longe, um "vale-a-pena-ver-de-novo" de um plano Condor da pós-modernidade.
Podem me achar de louca ou conspiratória, mas a História existe para entender o passado e impedir que os mesmos erros ocorram no presente. A História existe, única, exclusivamente e EXATAMENTE para construir um futuro melhor. Não acho prudente ignorá-la. Não acho prudente não observar. Não acho prudente pensar que não tem nada a ver com você. Não acho prudente não resistir porque depois, quando não houver mais como voltar atrás, quem irá sofrer seremos nós. Sobretudo aquele que pensou que não tinha absolutamente nada a ver com isso.
Resisto ao golpe contra Lugo não porque morro de amores por Lugo, mas porque tenho convicção que a nossa soberania (a minha, a sua, a da minha família, a da sua família) passa por uma ação conjunta e de noção de irmandade entre os povos. Não sou umbiguista e para que eu tenha felicidade eu preciso que a América Latina seja minimamente respeitada. Do contrário, individualmente, nunca serei respeitada porque sou latino-americana e tenho muito orgulho disso.
Ao golpe contra o Paraguai eu digo NÃO!
domingo, 1 de maio de 2011
Luciano Huck presidente: nasce um novo Collor?
Escrito por Marco Damiani em 11 de abril de 2011, no jornal digital Brasil 247
Soou como piada, mas não é. Na edição deste mês, a revista Alfa, da Editora Abril, trouxe um candidato a presidente na sua capa. Um candidato para daqui a dez anos. Ninguém menos que o apresentador Luciano Huck. Ao ser perguntado sobre suas ambições presidenciais, ele mandou uma mensagem cifrada. “Agora, não”, retrucou ao repórter Marcelo Zorzanelli. “Daqui a dez anos, talvez, eu tenha mudado a resposta”. Foi o que bastou para que sua frase se tornasse o assunto mais comentado do twitter na segunda-feira 11. No início deste ano, Huck foi capa também da revista Veja, a principal publicação da Editora Abril, numa matéria intitulada “A reinvenção do bom-mocismo”."
continuação:
http://asarvoressaofaceisdeachar.blogspo
Isso demonstra a situação em que a direita se encontra:
Quem poderia manter a oposição coesa, nesse momento, seria Aécio Neves que, em seu primeiro discurso no senado pretendeu se colocar como líder da oposição, claramente. Mas com suas ultimas atitudes relacionadas ao bafômetro e documentos de carro vencidos sua imagem ficou manchada para o resto do Brasil.
Para nós que somos mineiros não é nenhuma novidade que Aécio viva bêbado e cheirado, mas o resto do Brasil não está tão familiarizado com os costumes de Aécio e nem sabe que em todo momento que foi governador de minas (e ainda é, dando linha no Antônio Anastasia) nunca fixou residência em Belo Horizonte e sim no Rio de Janeiro. Não sabe também que Minas Gerais vive sob uma ditadura de opiniões e nada é publicado na mídia local sem o crivo de Aécio. Também não é de conhecimento público que Aécio já esmurrou uma estudante universitária em uma festa porque ela sem querer esbarrou nele. E por aí vai.
O fato é que o Brasil, não conhecendo bem os costumes de Aécio, se surpreendeu com os ultimos acontecimentos enquanto os mineiros não. E agora Aécio teve que recuar no objetivo de liderar a oposição pelo menos por enquanto.
A oposição sem nenhum líder e entrando em conflitos internos publicamente se encontra, fatalmente desesperada. Pude assitir a semana passada o programa "entre aspas" da Globo News em que dois tucanos se engalfinhavam em rede nacional. Para quem quiser assistir: "Crise do PSDB deixa em aberto o futuro da oposição no Brasil" http://g1.globo.com/videos/globo-news/entre-aspas/v/crise-no-psdb-deixa-em-aberto-o-futuro-da-oposicao/1494782/#/Todos os Vídeos/page/1
Nesse contexto delicado, obviamente a oposição iria recorrer a esse tipo de coisa para retornar à presidência. De todo modo, embora Huck tenha chances de ganhar mesmo, enquanto Serra estiver vivo não larga o osso, e fará absolutamente qualquer coisa para conseguir. As eleições passadas provaram isso.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Discurso do Ministro Celso Amorim na Onu Discurso do Ministro Celso Amorim na abertura do Debate Geral da 65ª Sessão da Assembleia Geral das Nações U
Discurso do Ministro Celso Amorim na abertura do Debate Geral da 65ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
Nova York, 23 de setembro de 2010
23/09/2010 -(English version available after the version in Portuguese)
Senhor Presidente da Assembleia Geral, Joseph Deiss,
Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
Senhoras e Senhores Chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e Senhores,
É grande a honra de subir a esta tribuna e falar em nome do povo e do Governo brasileiros. Trago a saudação do Presidente Lula. Dentro de poucos dias, mais de 130 milhões de brasileiros comparecerão às urnas e escreverão mais um importante capítulo da nossa democracia.
Ao longo dos dois mandatos do Presidente Lula, o Brasil mudou. Crescimento econômico sustentado, estabilidade financeira, inclusão social e a plena vigência da democracia conviveram e se reforçaram mutuamente.
Mais de vinte milhões de brasileiros saíram da pobreza e outros tantos da pobreza extrema. Quase trinta milhões de pessoas ingressaram na classe média.
Políticas públicas firmes e transparentes reduziram as desigualdades de renda, de acesso e de oportunidades. Milhões de brasileiros conquistaram dignidade e cidadania. O mercado interno fortalecido nos preservou dos piores efeitos da crise mundial desencadeada pela ciranda financeira nos países mais ricos do Planeta.
O Brasil orgulha-se de já ter cumprido quase todas as metas e de estar a caminho de alcançar, em 2015, todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
A incapacidade de um país, de qualquer país, de alcançar essas metas deve ser encarada como um fracasso de toda a comunidade internacional. A promoção do desenvolvimento é uma responsabilidade coletiva.
O Brasil vem se empenhando em ajudar outros países a replicar experiências bem sucedidas.
Nesses últimos anos, o Brasil moveu-se na cena internacional impulsionado pelo sentido de solidariedade. Temos a convicção de que é possível fazer política externa com humanismo, sem perder de vista o interesse nacional.
Essa política é amparada por iniciativas de cooperação Sul-Sul. O Fundo de Alívio à Pobreza do IBAS, foro que congrega Índia, Brasil e África do Sul, financia projetos no Haiti, Guiné Bissau, Cabo Verde, Palestina, Camboja, Burundi, Laos e Serra Leoa.
O Brasil aumentou substancialmente sua ajuda humanitária e multiplicou os projetos de cooperação com países mais pobres.
A África ocupa um lugar muito especial na diplomacia brasileira. Desde a sua posse, o Presidente Lula foi à África onze vezes. Visitou mais de duas dezenas de países.
Implantamos um escritório de pesquisas agrícolas em Gana; uma fazenda-modelo de algodão no Mali; uma fábrica de medicamentos anti-retrovirais em Moçambique; e centros de formação profissional em cinco países africanos.
Com comércio e investimento, estamos ajudando o continente africano a desenvolver sua enorme potencialidade e a diminuir sua dependência de uns poucos centros de poder político e econômico.
O Brasil tem uma preocupação especial com a Guiné Bissau. Não é por meio do isolamento ou do abandono que a comunidade internacional logrará resolver os problemas que ainda persistem naquele país irmão. Precisamos de modalidades mais inteligentes de cooperação, que promovam o desenvolvimento e a estabilidade e incentivem as indispensáveis reformas, sobretudo no que tange às forças armadas.
Neste ano, em que um número significativo de países africanos comemora cinquenta anos de descolonização, o Brasil renova seu compromisso com uma África independente, próspera, justa e democrática.
Em poucas situações a solidariedade internacional é tão necessária quanto no Haiti.
Juntamo-nos à ONU no luto pela tragédia que ceifou centenas de milhares de vidas haitianas. Nós mesmos perdemos brasileiros de grande valor, como a Dra. Zilda Arns – uma mulher que dedicou sua vida aos pobres, especialmente às crianças –, Luiz Carlos da Costa, Chefe-Adjunto da MINUSTAH, além de dezoito de nossos militares.
Queremos expressar nossa compaixão pelo sofrimento do povo haitiano e, acima de tudo, nossa admiração pelo estoicismo e coragem com que tem sabido enfrentar a adversidade.
Os haitianos sabem que podem contar com o Brasil, não só para a manutenção da ordem e a defesa da democracia, mas também para o seu desenvolvimento. Estamos realizando o que prometemos e estamos vigilantes para que os compromissos da comunidade internacional não se esgotem em manifestações retóricas.
Nos últimos anos, o Governo brasileiro investiu muito na integração e na paz da América do Sul. Fortalecemos nossa parceria estratégica com a Argentina. Aprofundamos o Mercosul, inclusive com mecanismos financeiros únicos entre países em desenvolvimento.
A fundação da UNASUL - União de Nações Sul-americanas – teve como objetivo consolidar uma genuína zona de paz e de prosperidade. A UNASUL já demonstrou seu valor na promoção do entendimento e da solução pacífica de conflitos entre países sul-americanos e no interior desses países. A UNASUL tornou ainda menos justificável qualquer tipo de ingerência externa.
Com a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, lançada na Bahia e confirmada em Cancún, reafirmamos a vontade regional de ampliar para a América Central e Caribe o espírito integracionista que anima os sul-americanos.
O Brasil reitera seu repúdio – que é de todos os latino-americanos e caribenhos – ao ilegítimo bloqueio a Cuba, cujo único resultado tem sido o de prejudicar milhões de cubanos em sua luta pelo desenvolvimento.
Condenamos retrocessos antidemocráticos, como o golpe de Estado em Honduras. O regresso do ex-Presidente Zelaya sem ameaças à sua liberdade é indispensável para a normalização plena das relações de Honduras com o conjunto da região.
Quando o Presidente Lula subiu a esta tribuna pela primeira vez, em 2003, o mundo vivia sob a sombra da invasão do Iraque.
Esperamos que tenhamos aprendido as lições daquele episódio. É preciso rejeitar a fé cega em relatórios de inteligência feitos sob medida para justificar objetivos políticos. É preciso banir, de uma vez por todas, o uso da força sem amparo no Direito Internacional. Mais do que isso: é fundamental valorizar o diálogo e as soluções pacíficas para as controvérsias.
Para alcançarmos um mundo verdadeiramente seguro, é preciso que seja cumprida a promessa da eliminação total das armas nucleares. Cortes unilaterais são bem-vindos, mas insuficientes, sobretudo quando ocorrem em paralelo à modernização dos arsenais atômicos.
Como o Presidente Lula costuma dizer, o multilateralismo é a face internacional da democracia. E a ONU deve ser o principal centro de decisões para a política internacional.
As mudanças que se têm operado no mundo ao longo das últimas décadas e a sucessão de crises que temos vivido no que toca à segurança alimentar, à mudança do clima, ao campo econômico e financeiro, e às áreas de paz e segurança tornam urgente redefinir as regras que organizam o convívio internacional.
A crise financeira de 2008 precipitou mudanças na governança econômica global. O G-20 tomou o lugar do G-8 como principal foro de deliberação sobre temas econômicos.
O G-20 significou uma evolução. Mas o Grupo deve sofrer ajustes, por exemplo, para garantir maior presença africana. O G-20 só preservará sua relevância e legitimidade se souber manter diálogo franco e permanente com o conjunto das nações representadas nesta Assembleia Geral.
No auge da crise, conseguimos evitar o pior: um surto protecionista descontrolado, que teria lançado o mundo em uma depressão profunda. Mas os países desenvolvidos não têm demonstrado o necessário compromisso com a estabilidade econômica global. Continuam privilegiando uma lógica baseada em interesses paroquiais.
Em nenhuma outra área isso é tão evidente quanto na Rodada Doha da OMC. Uma solução equilibrada desse processo, que se estende por quase dez anos, favoreceria, com o fim dos subsídios distorcivos e das barreiras protecionistas, a expansão econômica e o desenvolvimento nos países mais pobres. Afinal, são estes as principais vítimas da visão estreita e mesquinha que ainda prevalece em relação ao comércio internacional.
Na área financeira, as reformas tampouco foram suficientes. Resistências injustificadas impedem que mudanças já acordadas sejam concretizadas. A obstinação em manter privilégios anacrônicos perpetua e aprofunda a falta de legitimidade das instituições.
Outro grande desafio é o de alcançar um acordo global, abrangente e ambicioso sobre a mudança do clima.
Para avançar nessa matéria, é preciso que os países deixem de se esconder uns atrás dos outros. O Brasil, como outros países em desenvolvimento, fez a sua parte. Mas, em Copenhague, várias delegações, sobretudo do mundo rico, procuraram justificativas para se esquivarem de suas obrigações morais e políticas. Esqueceram-se de que com a natureza não se negocia.
Um resultado positivo na COP-16, com progressos reais em florestas, financiamento para adaptação e mitigação e a reafirmação dos compromissos de Quioto, é imprescindível. A presidência mexicana pode contar com o engajamento do Brasil.
Em 2012, organizaremos no Rio de Janeiro a Rio+20. Em nome do Governo brasileiro, renovo o convite a todos, para realizarmos a promessa de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
Senhor Presidente,
A reforma da governança global ainda não alcançou o campo da paz e da segurança internacionais. Nas esferas econômica e ambiental as nações mais ricas já compreenderam que não podem prescindir da cooperação dos países pobres e dos emergentes. Mas, quando se trata de assuntos da guerra e da paz, as potências tradicionais relutam em compartilhar o poder.
O Conselho de Segurança deve ser reformado, de modo a incluir maior participação dos países em desenvolvimento, inclusive entre seus membros permanentes.
Não é possível continuar com métodos de trabalho pouco transparentes, que permitem aos membros permanentes discutirem, a portas fechadas e pelo tempo que desejarem, assuntos que interessam a toda a Humanidade.
O Brasil tem procurado corresponder ao que se espera de um membro do Conselho de Segurança, mesmo não-permanente, que é contribuir para a paz. Por essa razão, nos empenhamos em encontrar um instrumento que pudesse representar avanço para a solução do dossiê nuclear iraniano.
Ao fazê-lo, nos baseamos em propostas apresentadas como “oportunidade ímpar” para criar confiança entre as partes. A Declaração de Teerã de 17 de maio, firmada por Brasil, Turquia e Irã, removeu obstáculos que, segundo os próprios autores daquelas propostas, impediam que se chegasse a um acordo.
A Declaração de Teerã não esgota a matéria. Nem foi essa a intenção. Estamos convictos de que, uma vez de volta à mesa de negociações, as partes encontrarão formas de resolver outros problemas, como o enriquecimento a 20% e o estoque de urânio enriquecido acumulado desde outubro de 2009.
A despeito das sanções, ainda temos esperança de que a lógica do diálogo e do entendimento prevaleça.
O mundo não pode se permitir o risco de um novo conflito como o do Iraque. Por isso temos insistido com o Governo do Irã que mantenha uma atitude flexível e de abertura às negociações. É preciso que todos os envolvidos revelem essa disposição.
Seguimos com atenção os desdobramentos no processo de paz no Oriente Médio. Esperamos que o diálogo direto entre palestinos e israelenses, lançado no início deste mês, leve a avanços concretos, que resultem na criação de um Estado Palestino nas fronteiras anteriores a 1967. Um Estado que assegure ao povo palestino uma vida digna, coexistindo, lado a lado e pacificamente, com o Estado de Israel.
Mas não é a forma do diálogo que determinará se haverá resultados. O que importa é o ânimo das partes de chegar a uma paz justa e duradoura. Isto será mais fácil com o envolvimento de todos os interessados.
O congelamento de construções em assentamentos nos territórios ocupados, o levantamento do bloqueio à Faixa de Gaza e o fim de ataques a populações civis são elementos fundamentais neste processo.
Na visita que fez a Israel, à Palestina e à Jordânia, em março, o Presidente Lula discutiu esses temas com governantes e com representantes da sociedade civil. Recebemos em Brasília, com frequência, dirigentes de diversos países da região, que buscam apoio para a solução dos problemas que os afligem há tantas décadas e que não têm sido resolvidos pelos meios e atores tradicionais.
O Brasil, que tem cerca de dez milhões de descendentes de árabes e uma comunidade judaica convivendo em harmonia, não se furtará a dar sua contribuição para a Paz a que todos anseiam.
Temos um compromisso inabalável com a promoção dos Direitos Humanos.
Favorecemos um tratamento não-seletivo, objetivo e multilateral dos direitos humanos. Um tratamento sem politização ou parcialidade, em que todos – ricos ou pobres, poderosos ou fracos – estejam sujeitos ao mesmo escrutínio.
Na nossa visão, o diálogo e a cooperação são mais efetivos para assegurar o exercício dos Direitos Humanos do que a arrogância baseada em uma suposta superioridade moral auto-conferida.
Senhor Presidente,
Nos oito anos do Governo Lula, o Brasil desenvolveu uma diplomacia independente, sem subserviências e respeitosa de seus vizinhos e parceiros. Uma diplomacia inovadora, mas que não se afasta dos valores fundamentais da nação brasileira – a paz, o pluralismo, a tolerância e a solidariedade.
Assim como o Brasil mudou, e continuará a mudar, o mundo se está transformando. É preciso aprofundar e acelerar essas mudanças.
Com os avanços tecnológicos e a riqueza acumulada, não há mais lugar para a fome, a pobreza e as epidemias que podem ser evitadas. Não podemos mais conviver com a discriminação, a injustiça e o autoritarismo. Temos que enfrentar os desafios do desarmamento nuclear, do desenvolvimento sustentável e de um comércio mais livre e mais justo.
Estejam certos: o Brasil continuará lutando para fazer desses ideais uma realidade.
Muito obrigado.
Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/discurso-do-ministro-celso-amorim-na-abertura-do-debate-geral-da-65a-sessao-assembleia-geral-das-nacoes-unidas-2013-nova-york-23-de-setembro-de-2010