
Com uma nova grande crise (1929), e uma nova grande guerra, e uma nova prosperidade pós guerra o mundo se vê mergulhado em uma abundancia econômica de saltar os

Quando tudo parec


É na década de 80 que os movimentos sociais tentam se reorganizar vendo esperança em um jovem metalúrgico do ABC na clara boa intenção de uma transformação social que, finalmente, viria do povo e pelo povo. Vários tomam as rédeas da fundação do que vira ser o Partido dos Trabalhadores. Nesta época importantes intelectuais se uniram aos trabalhadores para fundar o PT. Também outros intelectuais se faziam presentes neste momento histórico sejam como fundarores, participantes ou observadores, como por exemplo o jovem professor intelectual da Universidade de Paris que anos atrás estava metido na frança de 68: Fernando Henrique Cardoso. É evidente que as intenções originais, ou o que se entendia ser as intenções fundamentais, não perdurou.
A conjuntura que abarca

Um agradava por sua voz aguda e seus cabelos

Nesse contexto, nada como os novos brinquedos coloridos e vídeos games que anunciavam a chegada da era tecnológica para complementar todo excesso de informação. Isto posto, a década perdida promove, logicamente, a geração que, igualmente perdida, construiria as próximas décadas.


Deste modo, a década de 90 segue os padrões da década de 80 e com seu rei e sua rainha eleitos desde então que, através da cultura de massas, ditavam as regras sociais para toda a humanidade: Madonna e Michael Jackson estabelecem, de uma vez por todas, o “american way of life” iniciado nos prósperos anos 50. Os jovens artistas que surgiriam após eles só faziam seguir as regras, nada era criado. Imitar as majestade era a tendência cultural no campo da música pop a partir deste ponto.
No Brasil, nomes como Cássia Eller, Zélia Ducan, Capital Inicial, de Dinho Ouro Preto, Skank , Pato Fu, entre outros, propunham uma alternativa na tentativa de dar uma injeção de intelectualidade renovadora na MPB, mais ou menos questionadora, direcionados, sobretudo, aos jovens do país. Nada que se compare às músicas de protesto ou a tropicália dos 60/70, mas ao menos uma proposta outra ao modo de viver americano vendido, agora, nas grandes redes de hiper mercados do fim do breve século XX.

Na primeira década do novo século segue a fortificação do modo americano de viver sem maiores questionamentos. Ao se questionar pode se levantar dúvidas , imediatamente, a respeito do gozo de suas perfeitas faculdades mentais.
A MPB prossegue caminhando na luta constante para se manter popular. Não consegue. A geração da década perdida já não entende e não se reconhece mais na MPB. A Música Popular Brasileira não é mais popular, é apreciada pela elite intelectual e só. Perdura o modelo de ídolos efêmeros que agora surgem como bananas nos trópicos a cada semana, ou dias. Na evidente incompetência em equivaler-se aos grandes feitos dos ídolos de outrora, os ídolos de agora se limitam a copiar, copiar e copiar. O original fica por conta do que é copiado da produção cultural anterior à 90.

Nessa lógica, se Christina Aguilera copia o jazz de 40 com “novos ares” do que copia da música pop de 90, então a música que Aguilera “cria” é de bom gosto e, apesar de pop, merece ser apreciada. Se Amy Winehouse , querendo reviver Billie Holiday, tenta ser uma versão feminina de Elvis Presley _ até nos vícios e, sobretudo, no que tange ao fato de um branco cantar as músicas dos negros e passar a mensagem de uma outra etnia, que não a sua, na ilusão forjada de que as cores se fundem _ Winehouse agora “cria” algo tão esplêndido para a juventude que a impressão é de que ninguém ouviu essa música antes. Se Beyoncé surge numa cópia reformulada das “The Supremes”, repaginada com uma cópia do pop de 90, com uma pitadinha “original” da cópia do interesse pelo público gay da Madonna de 80, com a cópia (mal feita) da mulher do movimento feminista de 60 (pois não se trata de feminismo aquilo que constrói seus alicerces na exploração da própria sensualidade a fim de satisfazer os desejos masculinos e de mercado) e a cópia da mulher sexualmente atraente dos filmes americanos de 30, então esta nova figurinha no mercado fonográfico merece ser ouvida pois tudo o que Beyoncé copia “criando” nos faz ficar em dúvida se essa mistura trata-se de algo que realmente vimos antes.

No fim da primeira década do início do século XXI, os efeitos das crises econômicas que até então eram cíclicas e concomitantes, agora eclodem em uma única grande crise mundial _ disfarçadas de crises pontuais de regionalidade pela grande mídia estabelecida, há muito, como quarto poder_ de proporções superiores à de 1929, a sociedade se encontra completamente fragmentada, efêmera, ansiosa, rápida, apressada, vulnerável psicologicamente, altamente tecnológica e com a maioria das informações no aspecto do conhecimento à disposição. O conhecimento é poder. Paradoxalmente a sociedade nunca experimentou, tão profundamente, o deleite da alienação e da possibilidade de ser parva acreditando, fielmente, se tratar de uma organização humana intelectualmente evoluída. Reformulando: e (in) voluí

Com tantas informações, com tanta rapidez, com tanta banalidade para com as questões essenciais no que tange à existência, não é preciso grande esforço para pensar: o padrão do pensamento já está (im) posto. A maioria pensa pelo padrão do pensamento estabelecido logo, não é de se surpreender, a maioria não pensa. Não se trata de uma ofensa gratuita à grande parte da humanidade, tampouco algo que inferioriza qualquer um que goze, ou não, dessa (des) vantagem. Trata-se de uma constatação factual.
No campo da cultura de massas, especificamente no que diz respeito à música, não é preciso mais uma arte de grandes questionamentos. É preciso algo que fantasie a sensação de questionamento social e ideológico sem de fato fazê-lo. Ato falho: afinal as ideologias foram quebradas em 80. Ou não?!

O que Gaga faz parece ser a coisa mais original de “todos os tempos da ultima semana” (como já salientava Titãs nos, não muito distantes, anos 90) e as “referências” que usa parecem remeter à “retroalimentação” tropicalista a que Gil se referiu em 70 a respeito de uma área cultural dialogar com outra _ bem como as áreas de aspectos culturais dialogarem com áreas outras _ , e com suas respectivas sub-áreas, resultando em um processo criativo que responderia às necessidades de identidade cultural que começaram a ser questionadas desde antes da República.
Nada disso.
Não se trata de “referências”, nem de conceito



O retrato da pós modernidade interpretado por Gaga está no fato de que se trata de muita informação, imagens rápidas, músicas efêmeras, questionamentos copiados de antes com nova roupagem cujo o figurino é outra cópia baseado em todos os recursos tecnológicos para que o show megalomaníaco de entretenimento, iniciado por Jackson, prossiga dialogando harmonicamente com a ideologia do Tio Sam com sua "nova" roupagem: um jovem negro de idéias novas das cópias do big stick da primeira década do século XX, de Roosevelt e da Doutrina Monroe, com a cópia da lógica do destino manifesto do século XIX, e da cópia com uma nova cara da polícia do seu próprio antecessor, numa embalagem super "original" da cópia de um discurso de nova era já feito desde os 1800.

Grandes feitos alardeadores que, de novo, não anunciam nada. “Um grande museu de grandes novidades”, como dizia o Cazuza da década perdida. Uma Caixa de Pandora e uma Torre de Babel pós-moderna personificada, na cultura de massa, por ícones como Gaga e, não obstante, respaldado por um público que, na verdade, pouco escolhe a despeito da crença que alimenta de que não é liderado _ mas se torna ovelha sem nenhum sinal da liberdade de salvação tão prometida pelo Super Homem de outras épocas. Dialeticamente é um público que, acreditando ter um líder _ que procurava desde dos 80 _, se torna profundamente perdido.
Lady Gaga e certos aspectos da pós modernidade são muitas coisas em uma só. Na exata proporção em que as crises do breve século XX e do recém nascido século XXI se dão quando a produção é muita, transformando tudo produzido até então em algo sem valor algum no momento da crise; Lady Gaga, retratando a pós modernidade e carregando as cópias de tudo, passa ser a personificação da confusão social de identidade e ausência da individualidade (que dá lugar ao individualismo a serviço do capital) sob a fórmula enlatada da cultura de massa. Não há grandes criações, não se lê mais grandes livros, não se tem mais grandes líderes de vanguarda, se tem muito pelo mercado de consumo e não se tem a si próprio, o conhecimento está posto a mesa e, entretanto, não se sabe quase nada. Não é possível identificar no ator histórico da grande massa da atualidade, tão pouco, a vantagem de pensar. O "pensar" é, definitivamente, o “american way of life”. É o cérebro social pós-moderno um caos no vácuo do século XXI, um perfeito nada: Lady Gaga.

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Para entender Lady Gaga by http://joycegarofalo.blogspot.com/2010/06/para-entender-lady-gaga.html is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported License.
10 comentários:
"...tudo demasiadamente rápido uma vez que, se mais longo fosse, obrigaria o exercício do pensar que, agora, já é desconhecido. Eis a fórmula da época atual."
É triste... =/
Pra mim o artigo mais contundente, coerente e organizado que você já escreveu. Não sabia que você podia contextualizar com tanta maestria a cultura pop. Na minha opinião isso deveria ser levado a seminários e se tornar objeto de pesquisa. E falo muito sério!!!
Na evidente incompetência em equivaler-se aos grandes feitos dos ídolos de outrora, os ídolos de agora se limitam a copiar, copiar e copiar. O original fica por conta do que é copiado da produção cultural anterior à 90.
Verdade aí, hein? Adorei o texto, Joy.
Eis que os ouvidos bastam quando o cérebro padece, pelo simples fato de serem maioria física e não superioridade no que diz respeito a evolução, e é por isso que tudo caminha à passos curtos para tudo que você citou Joy. Enquanto tivermos textos que nem este para se ler, será uma pedra no caminho retardando os passos do processo ;)
Joy, como sempre, suas ponderações são irretocáveis. Só acrescentaria que mesmo os ícones eleitos de outrora destas gerações de cutura de consumo, muitas vezes nem tem a consciência de que trabalham a favor do funcionamento dessa engrenagem. Esta pirâmide alientante, onde compreende-se que o topo seja a inteligência motriz que rege toda as bases, abarca e cria necessidades em todas as áreas. Seja vender arte pasteurizada, seja consumí-la, onde estas relações se estabelecem de acordo com os interesses do topo da pirâmide, e esta, diria eu, talvez seja a parte mais perigosa deste processo.
Um beijo enorme, 'mi cubanita' e parabéns po um texto tão bem escrito e estruturado.
Joi, o que você diz faz sentido. Conversando com meu pais sobre esse assunto ele disse que as pessoas esquecem que o verdadeiro interesse do "mercado de consumo" não é só que as pessoas consumam, e sim que o mercado consuma as pessoas e lucre através disso. Ainda sobre isso, tem uma citação do marx muito boa que é: "Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e actividades são tragadas pela cobiça." Karl Marx
Eu penso que o raciocicinio seja por aí. Como lembrou um camarada da comunidade que participo, é vendo nomes como Lady Gaga, Beyoncé e todos que seguem essa mesma linha, podemos retormar Adorno quando ele sugere que a industria músical é a mais-valia absoluta, em seu ápice. Esses produtos musicais (britney, gaga etc) se apropriam do trabalho de outros como se o trabalho fosse deles. Ou se apropriam do trabalho de outros que, por sua vez, se aproriaram do trabalho de terceiro, e a autoria continua sendo a deles. Quem criou aquilo de fato não recebe por isso. Eu posso concordar com o fato de que os que vieram antes da lady gaga, na década de oitenta, como michael e madonna, não tinham total consciência de como o sistema fazia uso delas. Mas desconfio que na atualidade Madonna tenha, por exemplo pelo próprio amadurecimento pessoal e pela forma como ela usa o sistema em troca. Falarei algo que falo sempre que posso que é, essa industria de produção cultural de massa que temos hoje tem muito da base da industria de produção cultural de massa de hollywood. Trata-se de um modelo que é aceito pela grande maioria da população e, ao meu ver, não é interessante para todos. Poderia funcionar para os americanos, mas não para um nigeriano. Mas não é isso que se passa, é uma forma americanizada de viver vendida através de uma cultura de massas. A Lady Gaga, bem como outras que eu citei, são só produtos dessa necessidade.O que é mais assustador é que os argumentos a favor desse estabelecido ou da própria Gaga é: "Mas ela é um ícone para nossa geração", "Ela é genial pois questiona a sociedade e choca", "ela é genial pois copia e faz ficar original" e por aí vai. Em primeiro lugar, ela não questiona nada como eu bem provei em meu texto. Em segundo lugar o fato dela ser um ícone da nossa geração não é elogio e nem defesa: ser ícone da nossa geração é tão fácil que até tati quebra barraco consegue ser. Se essa geração admira alguém e o elege como ícone, caso este alguém não estivesse preocupado com o próprio lucro, teria vergonha de ser o modelo de uma época tão vazia.Não é elogio algum "guiar" uma geração que aceita qualquer guia. E não é elogio nenhum ser uma geração cuja o icone não faz nem a arte pela arte (o que eu já acho questionável) e sim a pseudo-sub-arte por puro lucro. Se é Lady Gaga que nos "guia", que é nosso "ícone" e nosso "ídolo" genial que mudou o conceito da música pop, tá na hora de revermos o que consideramos por: ídolo que preste, ícone que faça juz ao título, conceito de "música" e de "mudança". Falo muito sério! Quando eu vejo que a Cicciolina foi contemporânea de Einstein e eu só tenho essa tal Gaga como contemporânea, a minha vontade é de dar um tiro na minha própria testa.
Parabens pelo artigo joyce.Interessantíssimo, pena que só é útil para quem ainda pensa, o que infelizmente não são muitos!!
Obrigada Tio! Que bom ter você aqui no meu blog! Pois é, pena que não são muitos. O que eu lamento é exatamente isso: que é possível que as pessoas leiam e não entadam a crítica de fato. Não sei o que podemos fazer para reverter esse quadro social, sinceramente. Origada mais uma vez Tio! Beijim!
Eu não teria como ter dito melhor, assim como não conseguria ter dito tão bem.
Parabéns pelo excelente artigo, á quem eu puder encaminharei. No entanto, o encaminharei sabendo que um pequeno percentual que o receberá o lerá todo, e que deste percentual, um percentual ainda menor compreenderá a mensagem. Justamente pelos efeitos citados pelo artigo.
O triste é não conseguir enxergar uma forma de reverter, até mesmo porque o empenho necessário seria a soma de todo o empenho que levou ao ponto atual. Ou seja, ir contra um planeta inteiro.
Vida longa e próspera!
Parabéns pelo texto. As peças encaixam-se com perfeição. Me questino se por traz desta estratégia de mercado existe alguém pensando ou se é resultado de uma consciência coletiva formada pelo individualismo de cada um de nós?
Mas ainda tenho esperança na humanidade pois acredito que ela segue em frente "com passos de formiga e sem vontade"!
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