domingo, 13 de junho de 2010

Para entender Lady Gaga.

No mundo pós 1a Grande Guerra e Revolução Russa surge então uma necessidade comum de rever os conceitos pelos quais as sociedades mundiais fincavam seus alicerces. Através de um movimento forte que abrangia a maior parte das áreas da cultura, as sociedades construíam o valor pelo patriotismo em seus respectivos países, neste contexto surge o Modernismo. Movimento cultural de vanguarda que, especificamente no Brasil, abarcou nomes de peso como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Patrícia Galvão (Pagu), entre outros. Não se tratava tão somente da arte pela arte, e sim da arte pela busca da cultura nacional, acompanhando também uma tendência das ciências humanas na busca pela verdadeira identidade nacional através da sua História desde os fins do século XIX. Se pensarmos que estamos aqui no início do século XX, as tendências dialogam entre si sem anacronismo algum. Posto isto, podemos perceber que a nação caminhava, enfim, para entender a si própria como nação em variados aspectos acompanhando também um viés mundial.

Com uma nova grande crise (1929), e uma nova grande guerra, e uma nova prosperidade pós guerra o mundo se vê mergulhado em uma abundancia econômica de saltar os olhos: quem não tinha liquidificador passa a ter, quem nunca teve máquina de escrever agora aprende a datilografar, quem tinha poucas opções de roupa agora tem Chanel. Na cultura a imagem da prosperidade, e do poder alcançado pelos Estados Unidos na Grande Guerra, também chega aos lares de todo mundo. Após anos mergulhado em uma política interna afastado dos problemas mundiais, num contexto onde a Alemanha gozava da confortável posição de hegemonia mundial, o Tio Sam se delicia em expandir o “american way of life” para todos os países do mundo. Afinal, ensinar o mundo a viver também faz parte do Destino Manifesto dos escolhidos, porque não?! Após a criação do Super Homem e do Capitão América, cuja a função era salvar a humanidade dos grandes inimigos na Segunda Grande Guerra, porque não colocar em prática a salvação, até então prometida só em quadrinhos para além dos tempos de guerra?Nessa efervescência dos emergentes temos Elvis Presley e o cinema musical de Hollywood que ensina os jovens a viver. Aqui no Brasil não ficamos indiferentes, tivemos a Jovem Guarda e oferecemos um ode ao “iê iê iê”.

Quando tudo parecia tranqüilo, numa maré de prosperidade e felicidade que, praticamente, se comprava enlatada nas prateleiras de qualquer mercado, o mundo se vê no meio do fogo cruzado de uma guerra fria. Seria dois mundos brigando para saber qual deles dominaria a terra inteira, ou seria o Tio Sam que não queria no mesmo planeta quem fosse mais poderoso que ele? Fato é que qualquer um que ousasse contrariar o grande Capitão América, era imediatamente salvo pelo Super Homem que tratava, de maneira muito eficiente, de promover “redemocratização” às nações latino-americanas para evitar o “mostro comunista”. Toda a América do Sul agora está mergulhada do plano de salvação dos grandes heróis mundiais. Ou seria plano Condor? A Pop Art, que criava suas raízes lá nos 50, chega com força total, e uma boa pitada de dadaísmo, dando um novo gás a cultura mundial. O Maio francês de 68 explode seu caldeirão europeu de idéias, protestos e cultura. No Brasil, sai de cena a Jovem Guarda, entra o tropicalismo dialogando com a Pop Art com maestria tanta que nem os de esquerda, nem os de direita os entendiam e, para ambos, eram os tropicalistas os traidores do Brasil. Mas não eram eles que retomaram um novo modernismo? A música de protesto não se atreveu a tais subjetividades, sua subjetividade está no campo das entrelinhas de cada letra. Era então, mais uma vez, uma arte de suma importância e função social.

Os planos de “salvação” já não precisam mais continuar, as nações já estavam salvas. Reformulando: as ditaduras impostas pelo autoritarismo do imperialismo americano caíram, o estrago já estava feito. A esquerda já estava fragmentada o suficiente, a sociedade já estava desorientada o suficiente, a direita já estava estabelecida sem abalos configurando a conjuntura perfeita para deixar que os países se resolvessem sozinhos, afinal não iriam conseguir mesmo.

É na década de 80 que os movimentos sociais tentam se reorganizar vendo esperança em um jovem metalúrgico do ABC na clara boa intenção de uma transformação social que, finalmente, viria do povo e pelo povo. Vários tomam as rédeas da fundação do que vira ser o Partido dos Trabalhadores. Nesta época importantes intelectuais se uniram aos trabalhadores para fundar o PT. Também outros intelectuais se faziam presentes neste momento histórico sejam como fundarores, participantes ou observadores, como por exemplo o jovem professor intelectual da Universidade de Paris que anos atrás estava metido na frança de 68: Fernando Henrique Cardoso. É evidente que as intenções originais, ou o que se entendia ser as intenções fundamentais, não perdurou.

A conjuntura que abarca essa óbvia confusão de todos os aspectos se configurou com a “quebra das ideologias”, queda do muro de Berlim e com o suposto “fim da história” não havia mais nada à que se lutar. As questões sócio-políticas e econômicas transbordam pela cultura novamente. Não havia líderes a se seguir e nenhum motivo pelo qual dar a vida em uma luta justa, restava seguir os modismos que nasciam a cada momento e transformar os artistas da música em ícones que ocupavam o lugar dos líderes em falta. Eram ídolos que agora guiam uma sociedade que, definitivamente, não sabe pra onde ir. É neste contexto que nomes como Cyndi Lauper, Madonna e Michael Jackson são coroados como reis eternos e inquestionáveis. Justo, afinal eram os únicos ali que nos ditariam o que fazer. Reformulando: Compreensível, já que ninguém sabia para onde correr.






Um agradava por sua voz aguda e seus cabelos extravagantes. Outro agradava por desagradar ao evidenciar questionamentos sobre sexualidade, religião e homossexualidade com a ajuda providencial de seu talento para marketing e sua técnica para dança. Um terceiro agradaria por ter reformado a indústria dos clipes musicais por meio de um talento nada acadêmico e que superava a questão da técnica e, proposto um conceito novo de entretenimento onde a megalomania e ideologia do poderoso Tio Sam dialogavam harmonicamente de maneira tão eficiente que, até hoje, quase ninguém percebeu.

Nesse contexto, nada como os novos brinquedos coloridos e vídeos games que anunciavam a chegada da era tecnológica para complementar todo excesso de informação. Isto posto, a década perdida promove, logicamente, a geração que, igualmente perdida, construiria as próximas décadas.


O final da década perdida nos trás jovens que questionam, culturalmente, se as próximas décadas realmente devem seguir com o modelo proposto em 80. No Brasil, Legião Urbana, de Renato Russo e Barão Vermelho, de Cazuza e Frejat, bebem na fonte da Tropicália e da Música de protesto para perguntar “Que país e esse?” ou gritar para que o “Brasil mostre a sua cara!”. Não são ouvidos de fato, apenas admirados porque sabe-se que dizem algo de relevante que remetia àquela realidade e ao que estava por vir. Mas a “salvação”, ou o estrago, já estava feito desde antes em 70, não havia mais cognição social suficiente para que o recado fosse, de fato, entendido.




Deste modo, a década de 90 segue os padrões da década de 80 e com seu rei e sua rainha eleitos desde então que, através da cultura de massas, ditavam as regras sociais para toda a humanidade: Madonna e Michael Jackson estabelecem, de uma vez por todas, o “american way of life” iniciado nos prósperos anos 50. Os jovens artistas que surgiriam após eles só faziam seguir as regras, nada era criado. Imitar as majestade era a tendência cultural no campo da música pop a partir deste ponto.

No Brasil, nomes como Cássia Eller, Zélia Ducan, Capital Inicial, de Dinho Ouro Preto, Skank , Pato Fu, entre outros, propunham uma alternativa na tentativa de dar uma injeção de intelectualidade renovadora na MPB, mais ou menos questionadora, direcionados, sobretudo, aos jovens do país. Nada que se compare às músicas de protesto ou a tropicália dos 60/70, mas ao menos uma proposta outra ao modo de viver americano vendido, agora, nas grandes redes de hiper mercados do fim do breve século XX.

É no século XXI, em plena pós modernidade, em que ídolos de antes já não mais existem ou estão “obsoletos” demais, que os anos 2000 se vê abertamente bombardeado por um novo ídolo a cada um montante de meses que, pelo menos , chegue perto do talento dos anteriores. Regados a Britney Spears, Kelly´s Keys, e funk´s cariocas, o início dos anos 2000 diz logo a que veio deixando apenas para um seleto público a arte de Jorge Vercillo, Ana Carolina, Maria Rita (a filha de Elis Regina de 70, a “pimentinha” e seu Dois na Bossa) e Jair de Oliveira, o Jairzinho de 80 (Filho de Jair Rodrigues, aquele dos 70, dos festivais e também de Dois na Bossa); entre outros.
Na primeira década do novo século segue a fortificação do modo americano de viver sem maiores questionamentos. Ao se questionar pode se levantar dúvidas , imediatamente, a respeito do gozo de suas perfeitas faculdades mentais.

A MPB prossegue caminhando na luta constante para se manter popular. Não consegue. A geração da década perdida já não entende e não se reconhece mais na MPB. A Música Popular Brasileira não é mais popular, é apreciada pela elite intelectual e só. Perdura o modelo de ídolos efêmeros que agora surgem como bananas nos trópicos a cada semana, ou dias. Na evidente incompetência em equivaler-se aos grandes feitos dos ídolos de outrora, os ídolos de agora se limitam a copiar, copiar e copiar. O original fica por conta do que é copiado da produção cultural anterior à 90.

Nessa lógica, se Christina Aguilera copia o jazz de 40 com “novos ares” do que copia da música pop de 90, então a música que Aguilera “cria” é de bom gosto e, apesar de pop, merece ser apreciada. Se Amy Winehouse , querendo reviver Billie Holiday, tenta ser uma versão feminina de Elvis Presley _ até nos vícios e, sobretudo, no que tange ao fato de um branco cantar as músicas dos negros e passar a mensagem de uma outra etnia, que não a sua, na ilusão forjada de que as cores se fundem _ Winehouse agora “cria” algo tão esplêndido para a juventude que a impressão é de que ninguém ouviu essa música antes. Se Beyoncé surge numa cópia reformulada das “The Supremes”, repaginada com uma cópia do pop de 90, com uma pitadinha “original” da cópia do interesse pelo público gay da Madonna de 80, com a cópia (mal feita) da mulher do movimento feminista de 60 (pois não se trata de feminismo aquilo que constrói seus alicerces na exploração da própria sensualidade a fim de satisfazer os desejos masculinos e de mercado) e a cópia da mulher sexualmente atraente dos filmes americanos de 30, então esta nova figurinha no mercado fonográfico merece ser ouvida pois tudo o que Beyoncé copia “criando” nos faz ficar em dúvida se essa mistura trata-se de algo que realmente vimos antes.

Os produtores musicais que, por ventura, são os mesmos para todos os ídolos que surgem a cada 24 horas, vêm os resultados desse caldeirão de “criatividade” diretamente nos gráficos de lucros das suas empresas fonográficas. O lucro possibilita a vantagem para que a Industria musical e, da produção cultural de massas, promova novas pesquisas de mercado do que seria de impacto no aspecto consumista no seio da geração da década perdida e da geração pós-moderna na próxima semana. Ambas as gerações se sentem satisfeitas por pensar que mais um novo ídolo apareceu para guiá-las já que, o ídolo do mês passado já se encontra por demais obsoleto para as necessidades atuais dessa semana. É nesse contexto que surgem fenômenos “culturais” como Lady Gaga.


No fim da primeira década do início do século XXI, os efeitos das crises econômicas que até então eram cíclicas e concomitantes, agora eclodem em uma única grande crise mundial _ disfarçadas de crises pontuais de regionalidade pela grande mídia estabelecida, há muito, como quarto poder_ de proporções superiores à de 1929, a sociedade se encontra completamente fragmentada, efêmera, ansiosa, rápida, apressada, vulnerável psicologicamente, altamente tecnológica e com a maioria das informações no aspecto do conhecimento à disposição. O conhecimento é poder. Paradoxalmente a sociedade nunca experimentou, tão profundamente, o deleite da alienação e da possibilidade de ser parva acreditando, fielmente, se tratar de uma organização humana intelectualmente evoluída. Reformulando: e (in) voluída. O poder é de (quase) ninguém.

Com tantas informações, com tanta rapidez, com tanta banalidade para com as questões essenciais no que tange à existência, não é preciso grande esforço para pensar: o padrão do pensamento já está (im) posto. A maioria pensa pelo padrão do pensamento estabelecido logo, não é de se surpreender, a maioria não pensa. Não se trata de uma ofensa gratuita à grande parte da humanidade, tampouco algo que inferioriza qualquer um que goze, ou não, dessa (des) vantagem. Trata-se de uma constatação factual.

No campo da cultura de massas, especificamente no que diz respeito à música, não é preciso mais uma arte de grandes questionamentos. É preciso algo que fantasie a sensação de questionamento social e ideológico sem de fato fazê-lo. Ato falho: afinal as ideologias foram quebradas em 80. Ou não?!



Respondendo a uma necessidade de mercado, surge Lady Gaga que obriga-nos a perceber contemporâneos ao caótico numa sociedade onde ela existe. Isso, por si só, já explicaria todo o resto, mas opto por ser mais didática: É Lady Gaga o perfeito retrato da pós modernidade.

O que Gaga faz parece ser a coisa mais original de “todos os tempos da ultima semana” (como já salientava Titãs nos, não muito distantes, anos 90) e as “referências” que usa parecem remeter à “retroalimentação” tropicalista a que Gil se referiu em 70 a respeito de uma área cultural dialogar com outra _ bem como as áreas de aspectos culturais dialogarem com áreas outras _ , e com suas respectivas sub-áreas, resultando em um processo criativo que responderia às necessidades de identidade cultural que começaram a ser questionadas desde antes da República.

Nada disso.

Não se trata de “referências”, nem de conceitos elaborados e sofisticados como “retroalimentação” e não se trata de criação: é a cópia da estética imagética de 50, com a cópia de Madonna (que por sua vez, resvalava em seus feitos a estética pin up de 30), com a cópia de Michael Jackson (que possuía claras referências a James Brown), com a cópia dos artistas de 90 (que eram a cópia do rei e da rainha supracitados), com a cópia dos que copiavam os anteriores mais a cópia da cópia dos que são atuais, que fazem cópia da cópia dos que vieram antes deles.

E qual a fantástica originalidade de Lady Gaga? Elementar: Gaga não se limita a ser a cópia, tão somente, do que é anterior a ela até a década perdida. Se na década perdida entendia-se que se estabelecia o excesso de informação por vias tecnológicas e artísticas, é porque Lady Gaga ainda não estava em cena. Lady Gaga ultrapassa a reles cópia até esta década, vai além: promove a cópia do que já foi copiado de 30, de 40, de 50, de 60, de 70, de 90 e ainda possui a proeza de copiar o que é copiado por outros que são contemporâneos a ela no fim da primeira década do presente novo século. Como se não fosse o suficiente, os que vieram poucos anos antes de Gaga, os contemporâneos a ela e os ídolos juvenis que surgem concomitantes a ela, copiam a própria Gaga. Aquela que é a cópia vira o “criador” e, então, é copiado por quem, na maioria das vezes, ela própria copia. Segue-se o modelo/fórmula estabelecido em 90 no que diz respeito da imitação eterna dos ícones pop’s vindos de 80.


O retrato da pós modernidade interpretado por Gaga está no fato de que se trata de muita informação, imagens rápidas, músicas efêmeras, questionamentos copiados de antes com nova roupagem cujo o figurino é outra cópia baseado em todos os recursos tecnológicos para que o show megalomaníaco de entretenimento, iniciado por Jackson, prossiga dialogando harmonicamente com a ideologia do Tio Sam com sua "nova" roupagem: um jovem negro de idéias novas das cópias do big stick da primeira década do século XX, de Roosevelt e da Doutrina Monroe, com a cópia da lógica do destino manifesto do século XIX, e da cópia com uma nova cara da polícia do seu próprio antecessor, numa embalagem super "original" da cópia de um discurso de nova era já feito desde os 1800.


Muitas imagens, muitas referências, muitas cópias das cópias das cópias. Tudo demasiadamente mastigado para seguir o padrão de pensamento (im) posto, tudo demasiadamente rápido uma vez que se mais longo fosse, obrigaria o exercício do pensar que, agora, já é desconhecido. Eis a fórmula da época atual.

Grandes feitos alardeadores que, de novo, não anunciam nada. “Um grande museu de grandes novidades”, como dizia o Cazuza da década perdida. Uma Caixa de Pandora e uma Torre de Babel pós-moderna personificada, na cultura de massa, por ícones como Gaga e, não obstante, respaldado por um público que, na verdade, pouco escolhe a despeito da crença que alimenta de que não é liderado _ mas se torna ovelha sem nenhum sinal da liberdade de salvação tão prometida pelo Super Homem de outras épocas. Dialeticamente é um público que, acreditando ter um líder _ que procurava desde dos 80 _, se torna profundamente perdido.


Lady Gaga e certos aspectos da pós modernidade são muitas coisas em uma só. Na exata proporção em que as crises do breve século XX e do recém nascido século XXI se dão quando a produção é muita, transformando tudo produzido até então em algo sem valor algum no momento da crise; Lady Gaga, retratando a pós modernidade e carregando as cópias de tudo, passa ser a personificação da confusão social de identidade e ausência da individualidade (que dá lugar ao individualismo a serviço do capital) sob a fórmula enlatada da cultura de massa. Não há grandes criações, não se lê mais grandes livros, não se tem mais grandes líderes de vanguarda, se tem muito pelo mercado de consumo e não se tem a si próprio, o conhecimento está posto a mesa e, entretanto, não se sabe quase nada. Não é possível identificar no ator histórico da grande massa da atualidade, tão pouco, a vantagem de pensar. O "pensar" é, definitivamente, o “american way of life”. É o cérebro social pós-moderno um caos no vácuo do século XXI, um perfeito nada: Lady Gaga.



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10 comentários:

:: DuasCaras :: disse...

"...tudo demasiadamente rápido uma vez que, se mais longo fosse, obrigaria o exercício do pensar que, agora, já é desconhecido. Eis a fórmula da época atual."

É triste... =/

Theo disse...

Pra mim o artigo mais contundente, coerente e organizado que você já escreveu. Não sabia que você podia contextualizar com tanta maestria a cultura pop. Na minha opinião isso deveria ser levado a seminários e se tornar objeto de pesquisa. E falo muito sério!!!

Keka disse...

Na evidente incompetência em equivaler-se aos grandes feitos dos ídolos de outrora, os ídolos de agora se limitam a copiar, copiar e copiar. O original fica por conta do que é copiado da produção cultural anterior à 90.

Verdade aí, hein? Adorei o texto, Joy.

Rafa disse...

Eis que os ouvidos bastam quando o cérebro padece, pelo simples fato de serem maioria física e não superioridade no que diz respeito a evolução, e é por isso que tudo caminha à passos curtos para tudo que você citou Joy. Enquanto tivermos textos que nem este para se ler, será uma pedra no caminho retardando os passos do processo ;)

Joice disse...

Joy, como sempre, suas ponderações são irretocáveis. Só acrescentaria que mesmo os ícones eleitos de outrora destas gerações de cutura de consumo, muitas vezes nem tem a consciência de que trabalham a favor do funcionamento dessa engrenagem. Esta pirâmide alientante, onde compreende-se que o topo seja a inteligência motriz que rege toda as bases, abarca e cria necessidades em todas as áreas. Seja vender arte pasteurizada, seja consumí-la, onde estas relações se estabelecem de acordo com os interesses do topo da pirâmide, e esta, diria eu, talvez seja a parte mais perigosa deste processo.

Um beijo enorme, 'mi cubanita' e parabéns po um texto tão bem escrito e estruturado.

Joyce Garófalo disse...

Joi, o que você diz faz sentido. Conversando com meu pais sobre esse assunto ele disse que as pessoas esquecem que o verdadeiro interesse do "mercado de consumo" não é só que as pessoas consumam, e sim que o mercado consuma as pessoas e lucre através disso. Ainda sobre isso, tem uma citação do marx muito boa que é: "Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e actividades são tragadas pela cobiça." Karl Marx
Eu penso que o raciocicinio seja por aí. Como lembrou um camarada da comunidade que participo, é vendo nomes como Lady Gaga, Beyoncé e todos que seguem essa mesma linha, podemos retormar Adorno quando ele sugere que a industria músical é a mais-valia absoluta, em seu ápice. Esses produtos musicais (britney, gaga etc) se apropriam do trabalho de outros como se o trabalho fosse deles. Ou se apropriam do trabalho de outros que, por sua vez, se aproriaram do trabalho de terceiro, e a autoria continua sendo a deles. Quem criou aquilo de fato não recebe por isso. Eu posso concordar com o fato de que os que vieram antes da lady gaga, na década de oitenta, como michael e madonna, não tinham total consciência de como o sistema fazia uso delas. Mas desconfio que na atualidade Madonna tenha, por exemplo pelo próprio amadurecimento pessoal e pela forma como ela usa o sistema em troca. Falarei algo que falo sempre que posso que é, essa industria de produção cultural de massa que temos hoje tem muito da base da industria de produção cultural de massa de hollywood. Trata-se de um modelo que é aceito pela grande maioria da população e, ao meu ver, não é interessante para todos. Poderia funcionar para os americanos, mas não para um nigeriano. Mas não é isso que se passa, é uma forma americanizada de viver vendida através de uma cultura de massas. A Lady Gaga, bem como outras que eu citei, são só produtos dessa necessidade.O que é mais assustador é que os argumentos a favor desse estabelecido ou da própria Gaga é: "Mas ela é um ícone para nossa geração", "Ela é genial pois questiona a sociedade e choca", "ela é genial pois copia e faz ficar original" e por aí vai. Em primeiro lugar, ela não questiona nada como eu bem provei em meu texto. Em segundo lugar o fato dela ser um ícone da nossa geração não é elogio e nem defesa: ser ícone da nossa geração é tão fácil que até tati quebra barraco consegue ser. Se essa geração admira alguém e o elege como ícone, caso este alguém não estivesse preocupado com o próprio lucro, teria vergonha de ser o modelo de uma época tão vazia.Não é elogio algum "guiar" uma geração que aceita qualquer guia. E não é elogio nenhum ser uma geração cuja o icone não faz nem a arte pela arte (o que eu já acho questionável) e sim a pseudo-sub-arte por puro lucro. Se é Lady Gaga que nos "guia", que é nosso "ícone" e nosso "ídolo" genial que mudou o conceito da música pop, tá na hora de revermos o que consideramos por: ídolo que preste, ícone que faça juz ao título, conceito de "música" e de "mudança". Falo muito sério! Quando eu vejo que a Cicciolina foi contemporânea de Einstein e eu só tenho essa tal Gaga como contemporânea, a minha vontade é de dar um tiro na minha própria testa.

Tio Marcio disse...

Parabens pelo artigo joyce.Interessantíssimo, pena que só é útil para quem ainda pensa, o que infelizmente não são muitos!!

Joyce Garófalo disse...

Obrigada Tio! Que bom ter você aqui no meu blog! Pois é, pena que não são muitos. O que eu lamento é exatamente isso: que é possível que as pessoas leiam e não entadam a crítica de fato. Não sei o que podemos fazer para reverter esse quadro social, sinceramente. Origada mais uma vez Tio! Beijim!

Adriano de Freitas Trindade disse...

Eu não teria como ter dito melhor, assim como não conseguria ter dito tão bem.

Parabéns pelo excelente artigo, á quem eu puder encaminharei. No entanto, o encaminharei sabendo que um pequeno percentual que o receberá o lerá todo, e que deste percentual, um percentual ainda menor compreenderá a mensagem. Justamente pelos efeitos citados pelo artigo.

O triste é não conseguir enxergar uma forma de reverter, até mesmo porque o empenho necessário seria a soma de todo o empenho que levou ao ponto atual. Ou seja, ir contra um planeta inteiro.

Vida longa e próspera!

Aníbal Rosa Vargas disse...

Parabéns pelo texto. As peças encaixam-se com perfeição. Me questino se por traz desta estratégia de mercado existe alguém pensando ou se é resultado de uma consciência coletiva formada pelo individualismo de cada um de nós?
Mas ainda tenho esperança na humanidade pois acredito que ela segue em frente "com passos de formiga e sem vontade"!